Fechou os olhos com mais força e pediu para deixar de existir. Suplicou com toda a alma que sua existência simplesmente se desvanecesse em uma cortina etérea de sentimentos. Cerrou os punhos e bateu-os contra as têmporas no desespero sufocante de cessar a mente.
Encolheu-se um pouco mais, enrodilhando-se na cama. Sentiu o estômago revirar ao tentar segurar os soluços, as lágrimas já rolavam soltas, sem nenhum controle.
Rezou mais uma vez para o ar, pedindo aos deuses que extinguissem seu corpo e sua história, implorou por alívio em seu abandono. O silêncio foi sua única resposta. O silêncio que preenchia agora sua casa. O silêncio que repousava agora em sua alma.
Abriu os olhos, tentando afastar a imagem que insistia em surgir detrás das pálpebras. Fitou o teto e aquele rosto projetou-se em todas as cores. Os soluços romperam pelos lábios e convulsionaram o choro.
As lembranças recentes ainda doíam. A melodia das últimas palavras era nada menos que lúgubre. Como tudo podia ter sido tão facilmente destruído? Quão frágeis foram seus sonhos construídos juntos, no sussurro dos apaixonados? Quantos sorrisos futuros assassinados naquele abandono?
Praguejou e amaldiçoou os deuses que ainda mantinham seu sangue pulsando. Suplicou, ainda uma outra vez, com os olhos apertados que, quando os abrisse, nada mais visse que não fosse a escuridão da inexistência…
Abriu-os lentamente, as lágrimas corriam grossas e salgadas… Fitou as sombras que tremulavam, levemente, a luz da luminária que balançava no teto. Ainda havia vida, ainda restava abandono…
Chorou…
Soluçou…
Dormiu…
Morreu um pouco também…