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Fechou os olhos com mais força e pediu para deixar de existir. Suplicou com toda a alma que sua existência simplesmente se desvanecesse em uma cortina etérea de sentimentos. Cerrou os punhos e bateu-os contra as têmporas no desespero sufocante de cessar a mente.

Encolheu-se um pouco mais, enrodilhando-se na cama. Sentiu o estômago revirar ao tentar segurar os soluços, as lágrimas já rolavam soltas, sem nenhum controle.

Rezou mais uma vez para o ar, pedindo aos deuses que extinguissem seu corpo e sua história, implorou por alívio em seu abandono. O silêncio foi sua única resposta. O silêncio que preenchia agora sua casa. O silêncio que repousava agora em sua alma.

Abriu os olhos, tentando afastar a imagem que insistia em surgir detrás das pálpebras. Fitou o teto e aquele rosto projetou-se em todas as cores. Os soluços romperam pelos lábios e convulsionaram o choro.

As lembranças recentes ainda doíam. A melodia das últimas palavras era nada menos que lúgubre. Como tudo podia ter sido tão facilmente destruído? Quão frágeis foram seus sonhos construídos juntos, no sussurro dos apaixonados? Quantos sorrisos futuros assassinados naquele abandono?

Praguejou e amaldiçoou os deuses que ainda mantinham seu sangue pulsando. Suplicou, ainda uma outra vez, com os olhos apertados que, quando os abrisse, nada mais visse que não fosse a escuridão da inexistência…

Abriu-os lentamente, as lágrimas corriam grossas e salgadas… Fitou as sombras que tremulavam,  levemente,  a luz da luminária que balançava no teto. Ainda havia vida, ainda restava abandono…

Chorou…

Soluçou…

Dormiu…

Morreu um pouco também…

Cinzas

Eu esperava que o seu sorriso fosse tudo o que eu queria. Esperava desejar apenas o seu toque. No mais insano desejo, esperava apenas os seus lábios.

 

Tive seu sorriso.

Tive seu toque.

Beijei seus lábios.

Possui seu corpo.

 

Em meus seios eu tive seu hálito. Ofegante… Abraçados ficamos em terras de sonhos. Sorrisos fáceis, cúmplices de um crime delicado. Eu ardia de paixão encarando seus olhos, que observavam nosso reflexo.

Entreguei-me aos seus delírios. Embriagada em suas palavras, eu viajava em nossos espasmos.

 

Corpos cansados, sussuros ofegantes…

Língua ávidas, mãos curiosas…

Eu quis mais.

Eu quis tudo!

 

No silêncio do seu abraço compreendi o que me fora destinado desde o primeiro olhar…

Nada!

Sorri… Gargalhei!!!

 

Envolta em minhas próprias fantasias, eu te desenhei em minha mente, te tatuei na luxúria da minha pele com cores que você nunca tivera…

E muito depois de ter tido o seu sorriso, estremecido ao seu toque, experimentado seus lábios e possuído seu corpo, o som das minhas gargalhadas ainda ressoava em meus ouvidos.

Me enganaria até quando com o seu reflexo espelhado nos meus desejos? Pintaria você em meus tons por mais quanto tempo?

 

Senti até uma vontade irônica de agradecer-lhe pela rejeição…

 

Deveria te contar que me salvou de mim mesma?

 

Melhor não…

Um beijo seu

Ele me beijou.

Foi hoje mais cedo, o sol estava quase insuportavelmente quente. E o som dos meus saltos ecoava no corredor.

Ao menos assim eu não conseguia ouvir o som do meu próprio coração que queria rasgar caminho pela garganta afora.

Ele me olhou nos olhos, nos demos as mãos e ele me levava pelo corredor.

Uma secretária passou e sorrimos. Mais passos. Uma porta. Uma sala. Sorrisos. Olhares. Um toque. Um beijo.

Ah… um beijo!

Cheiro de brisa, de flores. Cheiro de mel.

O sorriso nasceu fácil em meus lábios e ficamos demoradamente nos olhando.

Ele me acariciava o rosto e eu lutava para conter um sorriso grande demais para uma pessoa só.

Ele me beijou ainda mais algumas vezes antes que eu me fosse.

Saí de lá invadida por aquele cheiro de flores e de mel. O mundo a volta até adquiriu um tom sépia enquanto voltavamos pelo corredor.

Nos despedimos com um beijo na testa que ele me deu e uma última olhadela de cumplicidade.

Enquanto caminhava de volta pelo estacionamento, soprou uma brisa jogando meu cabelo no rosto.

Pensei que a vida podia continuar assim: simples…

Coloquei meus óculos de sol e

pensei em querer mais um beijo…

Em querer aquele sorriso nos lábios por mais algum tempo…

Dirigi para o trabalho e

não consigo parar de pensar no seu olhar.

Não consigo esquecer esse cheiro de flores e mel que ainda sinto na minha pele.

Tentei comer, mas não consigo,

sem querer esse gosto de desejo que ele me enfiou pela boca.

Pensei em me deixar levar pela doce música que ouço quando ele me aconchega entre seus braços…

Pensei tanto que o sol já ia baixo quando ele me ligou dizendo já ter saudade do meu beijo…

Ah!!! aquele beijo…

Você disse que viria…

Que me visitaria…..

Quem sabe talvez, conhecesse minha alma, por minhas palavras…

Bem vindo a mim. Entre, sente-se, leia. Beba de meus sentimentos. Eu sou intensa. Em medos e amores…

Queria te dar um pouco de mim,  levar para casa e degustar longamente. Descobri que já não tenho muito o que doar.  Me larguei naqueles pedaços esfacelados de sonhos, quando quis um sorriso seu. Me perdi de amores por seu toque, quando corria os dedos pelas minhas costas. Juras mudas de desejo. Naveguei no fundo dos olhos seus, ansiando merecer um suspiro.  Porque me olha agora? Porque me confundes? Vivias tão bem, desenhado apenas em meus pensamentos…

Agora que se tornou real em meu corpo, só me resta matá-lo…

Preciso de seu amor em essência, não em existência… Honrarei a memória desse amor perdido com minhas lágrimas e tecerei o véu de nossas alegrias com minha dor. Sofrerei a angústia do abandono mesmo ao seu lado.

Sorrirei quando nos virmos novamente. Sutil, minha pele arrepiada gritará pela sua. Sôfrego, meu folêgo pedirá pelo ar que você respira. Meus olhos dissimularão a luxúria… Minhas mãos quererão te despir. Cerrarei os lábios, do contrário minha língua desejará percorrer seus segredos.

Viverei intensamente em ti sem que saibas…

Se ficar quietinho tempo suficiente, me ouvirá chorando por nosso amor perdido no cantinho da sua alma.

Se olhar tempo suficiente para a escuridão, me verá recostada no canto de nossas memórias, aguardando o dia clarear…

Se permanecer tempo suficiente, me conhecerá.

Que pena que você já foi…

Volta…

Só sei do que não gosto

Olhando as aranhas tecerem as teias ali no canto, me dei conta de quanto tempo se passou. Outro discurso, outros sonhos, outras perguntas… outra trilha sonora na vida. Um dia acreditei que chegaria ao fim… que conheceria tudo que havia para se querer conhecer em uma existência e neste momento, o amadurecimento me diria que era hora de parar e perpetuar aquele estado de ser e assim existir pelo resto de meus dias. Acreditei que viveria então o entorpecimento de quem tudo já experimentou e precisa apenas repetir aquelas boas e serenas rotinas que me deixariam felizes.

 

Descobri que o nome disso não é amadurecimento.

 

É morte…

 

Quantas vezes mais acordarei com vontade de não ser eu? 

Quantas vezes mais desejarei fugir de mim?

Gritar até perder a noção de tempo, só para calar as risadas que ecoam?

Sorrir ao sentir aquele cheiro íntimo de pele?

Dividir uma fatia de bolo?

 

Estou cansada de viver. Cansada de recomeçar. Com preguiça de revolucionar… E, ainda assim, continuo a cada dia caminhando pela penumbra de um recomeço. 

 

Descobri que ser estanque é cinza. Prefiro as cores, mesmo as escuras, mesmo as primárias… 

 

Engraçado como me gosto mais com o passar dos anos…

 

Será que foi a convivência?

Vida…

Levantou os olhos e pousou-os sobre aquelas cartas… esperava que se movessem ou ao menos que sangrassem. Silenciosas elas permaneceram e seu silêncio calou fundo na alma. A boca entreabriu-se e sem palavras que preenchessem aquele vazio, também calou-se. Permaneceram em muda companhia, esquadrinhando-se mutuamente.

Quantas vezes tivera medo de abri-las e em poucas palavras esfacelar os sonhos? Quantas vezes tivera medo de arrepender-se e voltar? Pedir perdão e recomeçar ainda mais uma vez…

Rasgou-as lentamente.

Queimou-as…

Sorriu

Fragmentos

E de repente eu olhei no fundo daqueles olhos meus estranhos e chorei lágrimas de pérolas. E, ainda que escorrem pétalas de seus olhos, ela apenas esperou até que os espinhos descessem pela garganta. E como se fácil ela se quebrou em mil pedaços de agonia… Sem olhar para trás, lá ela ficou. Presa em seu passado rememorando seu futuro… E sentiu que o tempo corria e que devia fazer alguma coisa e de tanto saber disso, nada fez… E o que antes era angústia calou fundo em seus olhos de quase-gueixa… Serva de seus desejos, senhora de suas fantasias…

Hipocrisia da vida, ironia do amor. Ainda que de si esperasse compreensão e aconchego, a frieza, tão sua conhecida deu uma risada lá no fundo. Só para se fazer notar. Esperando que me convidasse para ficar e fazer companhia, encarei-a placidamente como encaram aqueles que, sabendo de sua morte nada tem a temer. Olhamo-nos longamente. Ela sorriu. Reconciliamo-nos…

E como uma filha rejeitada apenas aninhou-se em meu colo e lá permaneceu, ciente de seu lugar de direito. Entre juras de não mais um abandono mútuo, entraram as outras. Irmãs, amigas… Esperava suas reações. Esperava que retaliassem minha fuga. Olharam-me, olharam-se….

E de tantas, entre muitas, me perdi naqueles meus desconhecidos olhos de quase-gueixa…

 Tarde!

Seria hoje muito tarde para lhe dizer bonitas palavras?

O tempo se esvai, o presente urge

E nossas palavras vãs se perdem no redemoinho do destino.

 

A pele já não mais se estremece ao toque.

Doce toque de suas cálidas mãos.

Toque?

Algum dia eu senti seu toque?

Ou seriam apenas delírios de minha alma?

Sim.

 

Pele, toque, corpo.

E o que será amanha. O amanha não me pertence, nem a ti.

Amanhã seremos passado, boas lembranças apenas.

Amanhã já não teremos pele.

Amanhã já não teremos toque.

Amanhã já não seremos corpo.

Amanhã já não seremos beijo

Apenas a doce lembrança de tudo o que fomos.

Ou não.

 

Pressinta, toque beije, ame.

Cada segundo de uma ínfima existência banhada a sentimentos

Sentimentos atropelados

Libertos dos grilhões e prisões morais.

Nossos corpos então libertos,

Poderão se juntar.

Unos, corpo e pele.

Deixaremos de ser matéria, para constituir o doce mundo dos sonhos e lembranças.

 

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Brisa,

Pele,

Beijos

Corpos….

Pueril

Já se perguntou o porquê de algumas tardes serem tão saudosas?

 

Pode ser a tonalidade da luz, a velocidade que as nuvens se deslocam ou até mesmo os cheiros que o vento traz… Não importa.  Algumas tardes tem jeito de saudade, tem cor de passado, gosto de adolescência. Quando se andava pela rua depois da escola, a caminho de casa, imaginando sonhos e desenhando a vida.

 

A nuvem branca no céu azul é idêntica àquela que presenciava o momento daquele beijo roubado no tapete de leitura, embaixo da janela, detrás das estantes, quando os lábios dele tocaram os dela pela primeira vez. Mal sabiam eles que muitos anos depois se reencontrariam e viveriam intensos momentos juntos, mas sem jamais viverem o amor que lhes fora destinado.

 

Ele tinha olhos negros. Ela tinha sonhos demais.

 

Ele falava de aventuras impossíveis. Ela jogava xadrez.

 

Ele escrevia histórias de detetive. Ela escrevia o nome dele no caderno.

 

Ele colecionava insetos. Ela poemas.

 

Ele contava os passos de casa até a escola. Ela passeava de bicicleta na frente da casa dele.

 

Ele foi embora. Ela viveu seus amores.

 

Ele murchou…

 

Ela?

 

Ainda respira fundo o odor das tardes saudosas sorrindo com os amores de adolescência.

Tão bobos…

Tão sublimes…

Ribalta

É como se o tempo parasse.

Como se o tempo corresse. 

Os sons chegam surdos, longe. Abafados pelas batidas do próprio coração que pulsa irrequieto.

O abraço coletivo no tablado. 

A oração sussurrada enquanto os olhos percorrem outras ansiedades…

As portas se abrem e escondidos pelas cortinas aguardam, sorriem, esperam, morrem um pouco.

As luzes se apagam. O sangue aquece as faces.

É chegada a hora. 

A vida pulsa e corre.

O tempo pára…

 

 

 

Aplausos… 

As cortinas se fecham.

Eu volto a ser eu…